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O Mito de Sansão e Dalila

O Mito de Sansão e Dalila

Disse Eliphas Levi: “Desditoso o Sansão da cabala, que se deixa dormir por Dalila. O Hércules da Ciência, que troca seu Cetro Real pelo fuso de Onfale, sentirá, logo, as vinganças de Dejanira e não lhe restará mais que a fogueira do monte Eta para escapar dos devoradores tormentos da túnica de Nesso.”

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O que será que tem de tão importante neste mito de Sansão e Dalila que é tão comentado e nada entendido? O que existe por trás das Sete Tranças de Sansão que lhe pendiam sobre as costas? Por que cortando seus cabelos Dalila lhe despojou de toda força que o Senhor dos Exércitos havia lhe concedido?

O livro Juízes, no Antigo Testamento da Bíblia, começa a narração do décimo terceiro capítulo dizendo que novamente o povo de Israel voltou as costas a Jehová que enviou um de seus Anjos (Malachim) a uma mulher estéril e a comunicou que conceberia um filho, por isto não deveria beber vinho ou cidra nem comer coisa imunda. Um fato curioso é que nem a mulher nem seu marido perceberam que o homem que lhes falou era um Anjo até que ele subisse ao céu. Outra condição imposta pelo Anjo foi que o menino seria dedicado a Deus desde o ventre da mãe (seria um Nazireo) e por isso não deveria raspar seu cabelo.

Várias vezes neste livro, o povo de Israel se esquece de Jehová e é punido, tornando-se subjugado por algum povo. Em vários versículos do livro Juízes, o Senhor Jehová afirma que não destruiria os inimigos de Israel para que ele, o povo, pudesse ser provado e aprendesse com seus erros. Isto é tremendamente simbólico e nos inspira a perceber que é uma realidade vivente em cada ser humano; devemos encontrar esses ímpios dentro de nós mesmos e, ao invés de rendermos culto a seus deuses de barro, devemos passa-los ao fio da Espada. Para este motivo Jehová deu à luz Sansão, através de uma concepção imaculada, tal como vemos nos Evangelhos. Um Anjo faz a anunciação e a mulher deve se purificar, pois o fato de ser estéril significa o símbolo da impureza, provavelmente ainda não era Iniciada e não era capaz de gerar um filho espiritual, pois era dada aos caprichos profanos; por isso foi proibida de se embriagar com o vinho da paixão nem se alimentar com doutrinas ou sentimentos profanos, eis aqui o símbolo do Pão e do Vinho. Significa dizer que devia purificar-se em sua psique e utilizar sua energia sexual de forma adequada. Este é o segredo da Castidade, não se abster do ato sexual, porém aprender a manejar a energia; pois se ela se abstivesse não seria possível nascer seu filho.

O menino nasce e é chamado Sansão. Sendo abençoado por Jehová, em pouco tempo já realiza prodígios. Seu nome significa literalmente “servir”, “copular” (como radical), e também significa “helianto”, flor popularmente conhecida como girassol. Na Cabala, nenhum nome é dado ao acaso e não seria diferente nesta mitologia…

Sansão veio para servir de instrumento ao Senhor para começar o castigo contra os Philistheos e julgar o povo de Israel. Por 20 anos Sansão foi juiz de Israel. Contudo, foi um homem que não resistia aos encantos femininos… Apaixonou-se por uma mulher dos Philistheos, que não eram circuncidados, ou seja, não eram iniciados nos mistérios judaicos, frequentou a casa de uma meretriz e ao fim deixou-se vencer pelos encantos de Dalila.

Ao apaixonar-se por uma filha dos Philistheos, o mito ensina que o iniciado não deve se envolver com uma mulher profana, pois com seus encantos lhe roubaria seus segredos e os profanaria, tal como no mito. Sansão lançou um enigma aos convidados de sua festa de bodas: “Do comedor saiu comida e do forte saiu doçura”, que deveria ser respondida até o final dos sete dias de banquete a troco de 30 lençóis e mudas de vestido. Ora, as bodas têm o claro sentido da alquimia sexual, os sete dias são os sete corpos internos do homem, e os 30 vestidos é uma alegoria à Lei do Três, simbolizada pelo Enxofre, o Mercúrio e o Sal da alquimia, que na justa proporção criam os sete corpos (vestidos) do homem solar. O enigma diz respeito ao leão que Sansão destroçou com a ajuda do Espírito de Jehová, do corpo do leão surgiu um favo de mel; podemos entender da seguinte forma, sem excluir interpretações mais inspiradas: o leão é um símbolo da força, do fogo, que deve ser domado e não destruído, o favo de mel que sai da boca do leão deve ser compreendido pela Lei das Analogias Filosóficas que nos ensina a analisar o contrário do símbolo, ou seja, lambuzar-se de mel prediz amarguras vindouras…

A mulher de Sansão passa os sete dias da festa de bodas lhe tentando, sob a ameaça dos convidados, para que revelasse o enigma. Cansado, no sétimo dia, Sansão revela: “O que é mais doce que o mel? E o que é mais forte que o leão?” Irado com a trapaça dos Philistheos, o espírito de Jehová se apossa dele, sai pela cidade e mata 30 homens ascalonitas e lhes despoja de suas vestes, entregando-as aos convidados. Depois vai à casa de seu pai, o que leva a seu sogro de entregar a esposa de Sansão a um seu companheiro, por pensar que Sansão a havia repudiado.

Os trinta convidados nos recordam aos Três Traidores do Cristo que, tal como a serpente do Éden, leva a mulher a seduzir Sansão e o trai revelando seu enigma. As Escrituras dizem que a mulher foi colocada no caminho de Sansão por vontade do Senhor Jehová, indicando que tudo deveria ocorrer desta forma, para que Sansão começasse a castigar os opressores de Israel. E assim é a vida de um Iniciado! A mulher não é má nem desprezível, mas quando se deixa levar por suas emoções negativas pode se desviar do Caminho e levar junto seu companheiro. Outro fato curioso, é que tal como na parábola das bodas onde o pai de família encontra um vestido com farrapos e lhe expulsa do banquete, aqui nenhum convidado parecia estar vestido a rigor, com os trajes de bodas, ou seja, ainda não haviam conhecido o segredo da Transmutação.

Quando Sansão retorna da casa de seu pai e descobre que sua mulher foi dada a outro, ele sai para incendiar a cidade, atando 300 raposas pela cauda e fazendo-as espalhar fogo pela cidade. Devemos lançar uma luz sobre esta questão de tanta matança e violência… Nos livros sagrados, quando o povo de Deus mata um inimigo, isto significa que ele mata um defeito próprio, que vive em sua psique, portanto, quando Sansão incendeia a cidade, ele está buscando purificar-se com o fogo de Deus, o número três, que é muito recorrente, indica isto. Este é o motivo de ele ser isento de culpa por fazer o mal aos Philistheos. Nosso Ego, representado pelos Philistheos, ataca novamente ao Iniciado e queima a casa de seu genro e sua esposa, o que levou Sansão a eliminá-los e depois se reclusou no Penhasco de Etam. Sabendo disto, fazem cerco em Judá e mandam trazer Sansão sob a ameaça de atacarem a tribo. A intenção dos Philistheos era por em prática a Lei do Talião, que é a lei que o ego conhece.

No Antigo Testamento, vemos esse tipo de lei entre os homens, olho por olho e dente por dente. Contudo, o Senhor Jehová nos mostrou uma lei superior, mostrou que não destrói completamente os inimigos de Israel para que o povo possa aprender com seus próprios erros; porém o povo, ao invés de eliminar seus inimigos (o ego), associou-se a eles e deu suas filhas em matrimônios aos ímpios (ou seja, cada pessoa cede suas virtudes em função dos prazeres que o ego nos oferece), esquece do verdadeiro Deus (o Deus Interno, o Real Ser) e passa a adorar falsos deuses (cada um de nossos defeitos que entronamos em nossa mente e nossos sentimentos). São esses os inimigos que sitiaram Judá em busca de Sansão, que representa o Iniciado que ainda está invadido de debilidades.

Trazido pelo povo de Judá, que estava na quantidade simbólica de três mil homens, símbolo vivo de seus irmãos, amigos, professores, que censuram ao Iniciado e o fazem se render ao ego, às tradições equivocadas e costumes daninhos da nossa cultura. Estando atado pelas mãos, pois se deixou levar pelos de Judá, na presença dos Philistheos, apossou-se possantemente de Sansão novamente o espírito de Jehová e as cordas que atavam suas mãos se queimaram libertando-o; encontrou a mandíbula de um asno morto recentemente e com ela matou mil dos seus inimigos. Jogando de lado a mandíbula, clamou a Jehová para que não morresse de sede naquele lugar, então o Senhor faz quebrar um dos molares da mandíbula (pelo menos uma tradução diz que Jehová fendeu uma caverna, de onde jorrou a água) e jorra água que lhe sacia a sede. Que curioso tudo isto?!

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Todo ser humano possui esse fogo dentro de si, mas não conhece a forma de despertá-lo. É o fogo capaz de transformar-nos internamente e, por isso, é possível enfrentar nossos inimigos ocultos nos momentos de perigo. O asno tem um significado interessante nas Escrituras, não tem o sentido pejorativo que hoje utilizamos, o asno significa a mente do Iniciado, e a caveira significa que já eliminou de sua mente vários de seus inimigos; da morte brota a vida, por isso sacia sua sede na mandíbula do asno (ou como Moisés, que tirou água da pedra). Mas resta uma pergunta: se não fossem os parentes de Sansão, como ele teria derrotado seus inimigos? Acontece que as pessoas ao nosso redor é quem fazem saltar de nosso subconsciente os inimigos escondidos, nesse caso não houve traição, pois eles asseguraram “não te mataremos” e o ataram com cordas que, para sua tremenda força, não era nada.

Sansão comete o erro de se render a uma meretriz, em Gaza (forte), e novamente é cercado por seus inimigos e, com um ato demasiado enigmático, livra-se deles: coloca em seus ombros a porta da cidade até o alto do monte onde se enxerga Hebron (unir, expulsar). Seus inimigos pretendiam atacá-lo ao amanhecer, mas ele dormiu (o verbete hebraico também pode significar “copular”, além de “dormir”) até a meia-noite e os enganou. Creio que qualquer pessoa neste momento fique confusa… Se estavam espiando os portões da cidade, como pode um homem erguer esses portões sem acordar ninguém e levá-lo a um monte? E por que levá-los a um monte? Sendo ele forte e protegido por Deus, não poderia simplesmente aguardá-los pela manhã e matá-los? Nas Escrituras, são comuns essas fugas surpreendentes no meio da noite, isto nos recorda os não raros desdobramentos astrais e os fenômenos Jinas. Com o corpo físico na 4ª dimensão da natureza, sem perturbar o sono de ninguém, sem o menor ruído, São Pedro fugiu da prisão com a ajuda de um Anjo, e nos parece ter sido exatamente isto o que aconteceu com Sansão. Mas será que não há mais nada a ser compreendido aqui?

Em seguida, chega o momento em que o herói conhece Dalila (delgado, cordão), que será seu maior desafio, a prova na qual não poderá fracassar… Diz a Bíblia que Sansão encontra Dalila em uma cidade chamada Nachal-Sorec que, curiosamente, significa “vale da videira de boa qualidade”. Imediatamente, os Philistheos coagem Dalila a descobrir o segredo da força de Sansão e como prendê-lo, a troco de mil e cem ciclos de prata. Dalila diz a Sansão, sem rodeios, que deseja saber de onde vem sua grande força e como atá-lo a fim de ser atormentado. Sansão mente por três vezes para ela, primeiro diz que bastava atá-lo com sete sogas (ou vergas de vime) ainda úmidas, depois uma maroma e, por fim, disse que deveria prender suas sete tranças com fios de tela. Dalila faz a chantagem que Sansão não resiste.

Neste ponto a Santa Bíblia afirma que depois de “apertá-lo” por dias com suas palavras, ele cedeu e contou-lhe que por ser Nazireo desde o ventre de sua mãe, nunca havia passado navalha em sua cabeça, e se assim o fizesse, seria “debilitado” como qualquer outro homem. Bem, em nossas pesquisas encontramos que a frase “VAYËHYKYHETSYQÅH” pode ser traduzido como “e seja porque o derramou” (e não apenas “o apertou”), e segue dizendo que o angustiou em seu ânimo até a morte; ora, ânimo vem de anima, alma, e isso foi algum tipo de “derramamento” que o deixou à mercê de Dalila…

O segredo da imensa força de Sansão é uma viva alegoria ao Grande Arcano do ocultismo, desvelado pelo VM Samael no livro “Matrimônio Perfeito”. Dalila faz com que Sansão durma sobre seus joelhos, manda chamar um homem para cortar-lhe as sete tranças, canta-lhe tormentos e retira-lhe sua força. Em todas as ocasiões, Dalila tenta prender Sansão quando ele está “dormindo” e o testa dando um falso alarme, tendo vários Philistheos escondidos em outra câmara. Porém, o herói sempre escapa, pois ainda tinha suas sete tranças, que simbolizam suas sete serpentes levantadas sobre a vara de sua coluna, tal como disse o VM Jesus “assim como Moisés levantou a serpente sobre a vara no deserto, importa que o filho do homem seja levantado”. Entretanto, dormindo sobre o colo de Dalila, ou seja, com sua consciência adormecida e, provavelmente, se entendemos bem o mito, depois de perder suas forças vitais com ela, também perde suas serpentes, e acrescenta a Bíblia que quando tentou se livrar dos Philistheos, Jehová já não estava com ele.

Parece-nos certo que, quando Deus se retira de uma pessoa ela não mais enxerga a luz, por isso seus inimigos lhes arrancam os dois olhos e o prendem. É levado e acorrentado a uma mó, trabalhando e sofrendo como cada ser humano que se entrega às paixões crendo-se livre, dando voltas e mais voltas sem sair do lugar, apenas servindo para a manutenção de seus próprios caprichos e defeitos psicológicos.

Quando seu cabelo volta a crescer, clama a Adonai-Jehová e derruba as duas colunas sobre as quais se sustentava a casa. Na ocasião, ofereciam sacrifícios ao deus Dagon por ter colocado Sansão como seu prisioneiro. Sansão imolou seu corpo e matou mais inimigos desta forma do que em qualquer outra ocasião. Símbolo semelhante a vários mestres que entregam seu corpo para que seu povo possa seguir o Caminho.

Terminando este maravilhoso relato, as Escrituras nos dizem que seus irmãos e toda a casa de seu pai “descem” para resgatar seu corpo e “sobem” com ele para que fosse colocado na tumba de seu pai. Algo nos sugere uma espécie de ascensão ao pai após sua morte… Sansão também nos faz recordar ao Filho Pródigo, gastou toda sua Fortuna no leito do prazer, e nos piores momentos de sua existência se arrependeu desejando voltar à casa do Pai.

Acreditamos que esta não é a única interpretação e, tampouco, a mais fiel e esotérica dos simbolismos contidos nas palavras da Santa Bíblia. Contudo, o que podemos falar será suficiente para despertar a curiosidade na alma de cada leitor para que ele busque dentro de si mesmo a realidade e a atualidade de cada mito bíblico, e possa cumprir com as palavras do Venerável Jesus de “tudo o que faço, podeis fazer, e ainda mais”.

4 respostas para "O Mito de Sansão e Dalila"

  1. Carlos Enviado em 11/08/2016 às 19:34

    muito obrigado por mostra esse lindo conto numa maneira que nunca iria saber.

  2. Luis Ricardo Enviado em 11/09/2016 às 13:58

    Impressionante, muito obrigado.

  3. maria Enviado em 12/09/2016 às 22:20

    muito legal, adoro ler esses contos :)

  4. Rodrogo Rodrogues Enviado em 08/07/2019 às 20:16

    Muito bom gratidao

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