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Odisseia – A Senda da Perfeição

Odisseia – A Senda da Perfeição

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Na Odisseia de Homero, fala-se de Ulisses, Rei de Ítaca, marido de uma formosa Rainha chamada Penélope, a qual amava de forma profunda. Ulisses teve que se afastar dela para fazer frente a uma guerra que se disputava entre os Aqueus e os Troianos naqueles tempos longínquos.

Depois de vários anos de ausência de seu reino e de contínuas e inumeráveis batalhas e sofrimentos, que duraram dez anos, e, devido à audácia de Ulisses, os Troianos conseguiram ganhar a guerra. Mas, por causa do orgulho que Ulisses possuía internamente, produziu-se a cólera dos Deuses do Olimpo e foi castigado por Netuno, deus dos oceanos da vida, quem o obrigou a permanecer dez anos mais vagando pelos mares e em diferentes lugares.

Penélope, que representa a Alma Feminina* de Ulisses nesse relato maravilhoso, a qual se encontra eternamente apaixonada por seu cônjuge, começou a tecer um manto para suas bodas (nessa época, no caso de uma rainha, era obrigada aceitar o cortejo e escolher um novo marido quando este tinha morrido ou se considerava desaparecido para sempre). Ela tecia de dia e “destecia” de noite e assim nunca terminava o manto, procurando ganhar tempo com firme esperança de que seu amado marido retornasse de sua longa viagem e de quem não se sabia com certeza seu verdadeiro destino.

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Existiam muitos pretendentes querendo conquistar a Rainha e casar-se com ela à força, os quais estavam interessados no palácio do Ulisses, diminuindo seus bens e ultrajando sua casa (o que usualmente fazem os mercadores do templo).

A Rainha impôs, durante longos anos inumeráveis, provas de destreza física, com a condição de que quem ganhasse, obteria o direito de casar-se com ela, transformando-se assim no novo Rei de Ítaca, mas, como todas as provas resultavam tão difíceis, nenhum deles as conseguia superar.

Ateneia, deusa da sabedoria, protetora de Ulisses e representação da Mãe Kundalini no relato, inspirou na Penélope a ideia de tirar o arco de seu marido para celebrar o concurso que ia ser prelúdio da matança dos inumeráveis personagens pretendentes (representação da legião egoica). Já Odisseu, como também Homero chamou Ulisses, estava em casa, havia finalmente retornado e Ateneia o tinha disfarçado de mendigo e ancião.

“Eis aqui que também surgem servidores mascarados e pode acontecer que aquele esmoleiro seja um Rei encoberto, porque pode escolher sua roupa a vontade. Não há disso prova segura, entretanto, o verdadeiro esmoleiro não pode ocultar sua pobreza.”

A prova consistia em dirigir o arco e fazer passar uma flecha pelo olho de doze furos perfeitamente alinhados de forma vertical e a uma distância igual entre eles (símbolo das Doze Constelações).

Como disparar uma flecha com um arco parecia tão simples, já que eles o praticavam todo o tempo (simboliza os atos que realizam os externos**), aceitaram com gosto a prova, mas tinham que utilizar esse arco em especial.

Todos pensaram que tinha chegado finalmente o momento de conquistar o direito de casar-se com a Rainha, mas quando a prova começou, tomaram o arco, carregaram a flecha e ninguém pôde nem sequer mover a corda do mesmo, não ficando mais remédio que se render.

Asseguraram que a prova era impossível de realizar, o mesmo discurso usado pelos externos quando conceituam que é impossível obter um ato Alquímico sem perder energia criadora, porque eles não conhecem o Mistério.

Então, entrou Ulisses, vestido com farrapos de mendigo, como são às vezes apresentados os grandes Reis que cumprem missões especiais. Apareceu como um esmoleiro e pediu que fosse permitido realizar essa mesma prova, solicitude esta que produziu, é óbvio, a risada desenfreada de todos, porque se eles, que eram grandes guerreiros, preparados e treinados para as armas, príncipes, membros poderosos da sociedade não o tinham podido fazer, como poderia obtê-lo um pobre mendigo?

Odisseu recebeu o arco, sustentou-o com força, colocou uma flecha e a disparou de forma simples e segura, acertando no alvo ante o olhar atônito de todos os presentes.

Uma vez que Odisseu (como ancião) conseguiu culminar a prova, deu-se a conhecer e começou a matança dos pretendentes.

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Cada experiência de Odisseu era uma prova iniciática. Este personagem, antes de alcançar destreza necessária para manipular o arco e matar os intrusos e invasores de seu reino, permaneceu em uma guerra sangrenta durante dez anos e vagou por outro tempo igual para sua volta.

Se analisarmos o Arcano 10***, veremos que representa a Roda do Samsara, a qual gira constantemente entre a evolução e a involução, percurso obrigatório do Caminhante do Sendeiro da Vida para ascender vitorioso pela escada da Revolução da Consciência.

A volta ao Reino também durou dez anos, simbolizando que sua distância é a mesma percorrida para nos afastar dEle. Com sua volta, Ulisses, a Alma Humana, se reúne finalmente com sua amada Penélope, a Alma Feminina, que aguarda por ele, lutando como uma verdadeira guerreira para defender-se de quem quer invadir o Trono.

Finalmente, se somarmos 10+10, obteremos como resultado cabalístico o Arcano 20, simbolizando a Ressurreição e a Luz da Consciência conquistada pelo viajante para alcançar a glória.

Este simples relato tem tanta sabedoria em sua mensagem e tanta relação com o “Trabalho Alquímico”, que sempre nos impressionou.

Todo estudante gnóstico, desejoso de empreender o caminho de retorno para seu Ser Interno através da Alquimia, deve primeiro preparar seu corpo para pode fazê-lo.

(Texto adaptado do livro “Caminho do Homem Autêntico”, de Juan Capasso)

*Alma Feminina: também chamada de Corpo da Consciência ou Alma Espiritual, que possui a sabedoria das “coisas de cima” e deve se unir à Alma Humana, que contém toda a sabedoria das “coisas de baixo”.

**Externos: pessoas que não se interessam (ou ainda não se interessaram) pela jornada iniciática, que não objetivam chegar ao seu Deus Íntimo, que não se importam em gastar suas energias criadoras (e salvadoras) torpemente nos vícios da vida cotidiana.

 

***Arcano 10: décima carta do Tarot Egípcio.

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