Apolônio de Tiana
Apolônio de Tiana foi o mais famoso filósofo do mundo greco-romano do primeiro século e devotou a maior parte de sua longa vida à purificação dos muitos cultos do Império e à instrução dos ministros e sacerdotes de suas religiões. Com a exceção de Cristo, nenhum personagem mais interessante apareceu na cena da história ocidental nesses primeiros anos. São muitas, variadas e frequentemente contraditórias, as opiniões sobre Apolônio. Além de seu ensino público, ele teve uma vida à parte, uma vida na qual nem mesmo seu discípulo favorito entrou. Ele viajou para as terras mais distantes e perdeu-se para o mundo por anos inteiros. Entrava nos santuários dos templos mais sagrados e nos círculos internos das comunidades mais fechadas e o que ele disse ou fez lá permaneceu um mistério.
Nascido em algum momento dos primeiros anos da era Cristã (provavelmente entre 1 e 10 d. C.) em Tiana na Capadócia (Turquia ou Ásia Menor, como era conhecida na época), Apolônio de Tiana teve pais aristocratas, de antiga linhagem e fortuna considerável. Muito cedo deu mostras de uma memória prodigiosa e de uma grande disposição para os estudos, além de ser de uma beleza notável. Aos quatorze anos foi enviado a Tarso, um famoso centro de estudos da época, para completar sua instrução. Porém, seu temperamento sério não se acomodava ao estilo de vida das escolas e mudou-se para Egue, cidade no litoral de Tarso, onde encontrou o ambiente adequado para mergulhar nos estudos da filosofia.
Frequentava o templo de Esculápio – onde curas ainda eram realizadas – e desfrutou da sociedade e instrução de discípulos e instrutores das escolas de filosofia Platônica, Estoica, Peripatética e Epicurista. Mas, dentre todos esses sistemas de pensamento, foram as lições da escola Pitagórica que ele absorveu com uma extraordinária e profunda compreensão, mesmo que seu professor, Euxeno, não fosse um praticante da disciplina. Mas ouvir falar não era suficiente para Apolônio e, aos dezesseis anos, ele iniciou-se na vida Pitagórica. Quando Euxeno perguntou-lhe como ele iniciaria seu novo modo de vida, ele respondeu: “Como o doutor purga seus pacientes”. Daí em diante, recusava-se a tocar qualquer coisa que houvesse tido vida animal, considerando que isso densifica a mente e a torna impura. Ele considerava que a única forma de alimentação pura era a produzida pela terra: frutas e vegetais. Também se abstinha do vinho pois, mesmo sendo feito de frutas, “tornava o éter túrbido na alma” e “destruía a compostura da mente”. Andava descalço, deixou seu cabelo crescer livremente e vestia-se somente com tecidos de linho. Agora vivia no templo, para a admiração dos sacerdotes e rapidamente se tornou tão famoso por seu ascetismo e vida pia que uma frase dos cilícios sobre ele (“Para onde estão correndo? Apressam-se para ver o jovem?”) se tornou um provérbio.
Quando tinha vinte anos, seu pai morreu (sua mãe havia morrido alguns anos antes), deixando considerável fortuna a ser dividida entre Apolônio e seu irmão mais velho, um jovem dissoluto de 23 anos. Como ainda era menor, Apolônio continuou a morar em Egue, mas chegando à maioridade voltou a Tiana para tentar salvar seu irmão de sua vida de vícios. Seu irmão aparentemente já tinha dissipado sua parte da herança e Apolônio imediatamente deu-lhe metade de sua própria parte e, com conselhos amorosos, devolveu-o ao mundo. Depois distribuiu o restante de seu patrimônio entre alguns parentes, mantendo para si apenas uma mínima parte.
Nessa época fez um voto de silêncio por cinco anos, que foram passados na Panfília e na Cilícia. Mas, ainda que passasse muito tempo em estudo, não se isolou do mundo, mantendo-se em movimento e viajava de cidade em cidade. Nem mesmo a disciplina do silêncio o impedia de fazer o bem. Já nessa tenra idade ele havia começado a corrigir abusos e com os olhos, as mãos e movimentos da cabeça, fazia-se entender.
Por Filóstrato, seu biógrafo, sabemos que Apolônio passou algum tempo entre os árabes e foi instruído por eles. Os locais que visitava ficavam fora das rotas, longe das populosas e agitadas cidades. Dizia que o tema de sua conversação requeria “homens, e não povo”. Ele passou o tempo viajando de um a outro desses templos, santuários e comunidades, o que nos leva a crer que havia entre eles algo em comum, da natureza de uma iniciação, que lhe franqueava as portas de sua hospitalidade. Mas onde quer que estivesse, sempre observava uma divisão regular do dia. Ao nascer do sol praticava certos exercícios religiosos sozinho, cuja natureza ele só transmitia a quem passasse pela disciplina dos “cinco anos” de silêncio. Procurava devolver aos cultos públicos a pureza de suas antigas tradições e sugeria melhoramentos nas práticas das irmandades privadas. A parte mais importante de seu trabalho era com aqueles que estavam seguindo a vida interior e que já olhavam Apolônio como um instrutor do caminho oculto. A esses discípulos devotava muita atenção, estando sempre pronto para responder suas perguntas e dar conselhos e instrução. Não negligenciava o povo, pois era seu costume invariável ensiná-lo, pois os que viviam a vida interior – ele dizia – deveriam, no início do dia, entrar na presença dos Deuses. Isto é, passar algum tempo em meditação silenciosa. Depois, passar o tempo até o meio dia dando e recebendo instrução nas coisas santas e só depois devotar-se aos afazeres humanos. Ou seja, a manhã era devotada por Apolônio à ciência divina e a tarde à instrução em ética e na vida prática. Depois do trabalho do dia ele se banhava em água fria, como faziam tantos místicos da época.
Segundo Filóstrato, Apolônio resolveu visitar os “Brachmanes” e “Sarmanes” (os Brâmanes e os Budistas), mas o que o levou a empreender essa longa e perigosa viagem não é esclarecido pelo biógrafo, que diz simplesmente que Apolônio imaginou que viajar era algo bom para um jovem. Mas é evidente que grande mestre jamais viajou meramente por amor da viagem, pois tudo o que ele realizou foi com um propósito específico.
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Quero deixar registrado meu agradecimento e dignas considerações pelo excelente conteúdo. Parabéns Gnosis do Brasil. Vida longa, saúde e paz. Namastê.
Olha, Apolônio foi um iluminado (como o Buda, Confúcio, Sócrates, Jesus etc.), mas não foi o mais importante e aclamado filósofo do primeiro século d.C. Esse título cabe a dois pensadores estóicos: Epiteto e Sêneca.
Muito obrigado, lindo texto
Sou grato por ter a oportunidade de fazer parte desta grande camada de almas que estão recebendo mais uma chance de acender mais está vez.
Namastê.