Mito de Sísifo e o Despertar da Consciência
Na Mitologia Grega, temos o conto de Sísifo, filho de Éolo e de Enarete, que foi condenado pelos deuses (após várias rebeldias contra eles) a viver no Hades (o Mundo dos Mortos) a rolar uma enorme pedra de mármore com suas mãos até o topo de uma montanha. Quando se aproximava do topo, o peso que os braços não aguentavam mais e a inclinação da montanha faziam com que a pedra rolasse de volta ao começo do trajeto. Os antigos gregos não contaram se um dia ele se libertou dessa pena…
Tal conto, que remonta há centenas de anos, não é apenas um simples conto: ele mostra a prisão em que todos nós estamos: a vida comum e corriqueira. Talvez muitos já pensaram “para onde vai me levar este trabalho que faço?”, “quando me tornarei rico com este meu emprego?”, “quantas vezes terei de fazer a mesma coisa todos os dias para chegar a algum lugar?”, “quando serei feliz?”.
Já disse sabiamente o 14º Dalai Lama, Tenzin Gyatso, respeitável e célebre religioso tibetano, que as pessoas perdem saúde para enriquecer materialmente e perdem tudo que ganharam para recuperar a saúde, vivendo no futuro sem viver no presente e como se nunca fossem morrer. Infelizmente, elas se autoenganam esquecendo que “a vida é formada pelas pegadas dos cascos do cavalo da morte”, pois todos temos um tempo definido.
Sísifo estava condenando no Hades a repetir uma tarefa inútil. E nós? Estamos condenados aos nossos próprios infernos? Será que devemos fazer da nossa vida um Hades interminável, repetindo coisas sem qualquer sentido? Não é errado trabalhar e nem acordar, dormir, comer e cumprir com os deveres diários; o errado, a ausência de inteligência e discernimento, é achar que vida é somente isso, tornar tais tarefas como se fossem o verdadeiro sentido de tudo.
Tudo na vida evolui, alcança um apogeu e involui. Não é difícil compreender isso quando estudamos história: assim como as civilizações do Egito, Grécia, Roma, Pérsia, dos Maias, etc., tiveram sua ascensão, seu apogeu e queda, assim é nossa vida, com seus sucessos e derrotas. Assim era Sísifo, que levava a pesada pedra até o cume, seus braços aguentavam por um curto período e logo a pedra caia violentamente. E, repetidamente, ele devia descer da montanha e fazer tudo outra vez, cegamente.
E para que serve tantas evoluções e involuções? A resposta só pode ser uma: para mostrar que tudo é vão, que tudo passa neste mundo. Sabem muito bem disso os monges budistas que realizam um interessante exercício: eles utilizam areia colorida para desenhar detalhadas mandalas, cujo trabalho pode durar dias ou semanas, e, após terminarem o delicado desenho, o destroem. Este é um exercício para o Despertar da Consciência.
Quem descobre a “vanidade” das coisas está no caminho do Despertar. Quem começa a compreender que a vida não é de apegos, está no caminho do Despertar. Quem começa a entender que a vida é um aprendizado, que serve para realizar uma jornada de autodescobrimento, autoconhecimento, está no caminho do Despertar. E a pessoa desperta vive no mundo sem se misturar, pois vive consciente de momento a momento, de instante em instante, sem se perder em divagações, preocupações futuras e passadas, ou identificando-se com as situações que surgem. Ela está constantemente aprendendo qual é a relação do seu interior com sua vida, pois sabe que o exterior nada mais que é o reflexo de seu interior.
Samael Aun Weor, Mestre Gnóstico e fundador das instituições gnósticas do século XX, predicava: “trágica é a existência daquele que morrer sem haver conhecido o motivo de sua vida”. Ao morremos fisicamente, já estávamos mortos por dentro, cegos, com a Consciência adormecida, como Sísifo no Mundo dos Mortos.
A Gnosis também possui seus exercícios para o Despertar da Consciência. Aqui devemos falar da prática da Chave S.O.L. (Sujeito-Objeto-Lugar). A Psicologia Gnóstica ensina que devemos, a cada momento do dia, recordar de nós mesmos, recordar de nossa própria existência. E como fazemos isso? Realizando simples três perguntas mentalmente: “Quem sou? O que estou fazendo? Onde estou?”.
Quando realizamos a pergunta “Quem sou?”, estamos nos referindo ao Sujeito, isto é, a nós mesmos, e devemos sentir a vida que anima esse corpo físico. Quando realizamos a pergunta “O que estou fazendo?”, temos que perceber o que estamos fazendo e qual o objetivo disso, não importando quão simples seja a ação. Quando fazemos a pergunta “Onde estou?”, olhar o lugar que estamos, com todos os seus detalhes, sem das opiniões, não importa se é seu próprio quarto, se é a rua ou é o local de trabalho.
A Chave SOL tem a função de nos por no aqui e agora, no presente, na vida realmente. Samael Aun Weor ensina que é no “aqui e agora” que se irmanam o passado e o futuro; quem vive no presente conscientemente se põe por alguns instantes fora do tempo, na Eternidade, no mundo da Consciência, onde reina a autêntica Felicidade.
Obviamente, a Chave SOL é um exercício e como qualquer exercício ela depende de prática, de constância e de Vontade. A Chave SOL, como o próprio nome diz, é aquilo que pode iluminar nossas vidas, como a luz do Sol, para deixarmos de ser meros habitantes do fúnebre Hades.