Muitas pessoas relatam ter passado pela sensação de reviver algo que a princípio nunca lhes havia acontecido, mas que de alguma forma lhe pareceu familiar. Cientistas sugerem que essa experiência, conhecida como déjà vu, poderia estar associada a falhas cerebrais relacionadas aos diferentes tipos de memória, ou seja, já se haveria passado pela mesma experiência, no entanto esta não deixou registros na memória recente, apenas na de longo ou médio prazo, conferindo a sensação de que o evento já ocorreu. Desta maneira, se não há como ter lembranças de algo que não aconteceu, então, em algum momento a cena foi vivida, mesmo que isso tenha ocorrido antes do próprio nascimento, em uma existência anterior. Pode-se entender melhor isto se adentrarmos na explicação dos antigos sábios, que de forma alguma refuta a explicação científica, senão que a complementa ao utilizar-se da perspectiva da metafísica e da observação natural, construindo a base do se chamou de Lei do Eterno Retorno.
A expressão dessa Lei pode ser verificada na Natureza, no Cosmos. Nosso Planeta sempre retorna ao seu ponto de partida original e então mais uma vez celebramos o Ano Novo. As quatro estações passam para logo regressar na mesma sequência. A noite retorna após o dia, o dia volta a aparecer depois da noite. O ser humano após viver anos sob o sol deve experimentar a morte e depois desta novamente a vida, encarnado agora em um novo corpo.
A Lei do Retorno fundamentaria o que se chama na Índia de Transmigração das Almas, isto é, a reincorporação dos princípios anímicos em um novo corpo material. Semelhante ideia pode ser encontrada no Livro Egípcio dos Mortos, na escola grega do matemático Pitágoras, onde recebeu o nome de metempsicose, com Platão e seus ensinamentos acerca da doutrina dos renascimentos, bem como com Budha em sua doutrina das vidas sucessivas.
Mas talvez tenha sido com o filósofo alemão Friedrich Nietzche que a Lei do Eterno Retorno tenha ganhado mais destaque no ocidente nos últimos tempos. O trecho do livro “Assim falava Zarastruta” (citado nos recentes livro e filme sobre o filósofo) chamou a atenção do público em geral, no qual se indaga como a pessoa reagiria se ouvisse o seguinte: “Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes e não haverá nela nada de novo…”. Nesse fragmento identifica-se a mecânica das vidas sucessivas, que não obstante o retorno da alma, ainda se processariam em cada renascimento as mesmos dramas e acontecimentos de existências anteriores.
Para uma melhor entendimento desses fenômenos, faz-se necessários estudos metafísicos acerca do conceito de tempo e dimensões. O filósofo e psicólogo russo Ouspensky, que também publicou sua obra sobre o Eterno Retorno, investigou sobre a existência de planos mais elevados que a terceira dimensão, nos quais a matéria vibraria de forma mais sutil e onde estaria a origem da vitalidade, dos pensamentos, dos sentimentos e dos princípios anímicos. Logo, o corpo físico seria uma espécie de roupa provisória da alma-consciência, citada assim nos livros sagrados hindus e que foi ratificado pela Teosofia e escolas gnósticas.
Posteriormente, o cientista Albert Einstein teceu os parâmetros para a física da quarta coordenada e definiu a relatividade do tempo e sua característica circular. Ora, se o tempo se assemelha a uma curva fechada, o que nele aconteceu voltará a se repetir em uma ou outra escala. Segundo os pitagóricos “se os movimentos celestes e outros são os mesmos, o que ocorrerá antes e o que ocorrerá depois também são os mesmos, aplicando-se a repetição”, isso se chama lei da recorrência, ou seja, a repetição de eventos em cada retorno.
Como bem definiu Samael Aun Weor: “De acordo com a sábia lei de recorrência, tudo na vida volta a ocorrer tal como já se verificou dentro do círculo vicioso do tempo, somada às consequências boas ou más da ação”, isto é, tudo se repete em espirais mais elevadas ou mais baixas, acompanhadas de suas consequências, sejam elas um castigo (espiral descendente) ou uma recompensa (espiral ascedente). Essa é a curva da vida, assim definida por Pitágoras e representada graficamente pelo símbolo do infinito (∞) e pelo Ouroborus, a serpente que morde sua própria cauda.
Nas Artes, o Bolero composto por Maurice Ravel ilustra bem a questão da recorrência, trata-se de uma composição de movimento único com melodia uniforme e repetitiva, variando apenas na sua intensidade crescente e progressiva, o que remete à Espiral e suas oitavas, porém ao chegar no final de tantas repetições, seu desfecho torna-se caótico.
Ao analisar do ponto de vista humano, a incessante repetição em cada renascimento da alma traz consigo a mecanicidade e a escravidão ao passado, visto que esse no momento dado se converterá em futuro, constituindo-se assim em uma espécie de maldição a qual se exigiria um esforço consciente para se poder escapar.
Ao realizar uma retrospecção atenta da forma de atuar, sentir e pensar perceberia-se em uma única vida a atuação da lei da recorrência, onde um determinado tipo de problemática volta a ocorrer de tempos em tempos na vida de uma pessoa. São principalmente as características psicológicas inconscientes da existência anterior que induzem isto. O ser humano possui uma marcada tendência a repetição de comportamentos durante a vida e ao se agir sempre da mesma forma os resultados tendem a ser os mesmos, em uma espiral mais profunda. Isso esclareceria ainda mais o déjà vu e os casos onde devido à repetição rigorosa, já se pode prever o futuro com exatidão ou desempenhar facilmente certas aptidões em tão tenra idade.
Portanto, é importante buscar o exercício da consciência no dia a dia e o autoconhecimento – através da observação de nossas atitudes externas e estados interiores – isto aliado à mudança de atitude frente aos padrões de reações constitui o que se necessita para vencer essas leis e modificar o destino já programado durante tantas vidas, possibilitando o exercício do verdadeiro livre-arbítrio e minimizando os efeitos dessas leis sobre nossas vidas.
Aline da Silveira Fonseca
Resumindo, este fato(Déjà vu) portanto ocorre quando o mesmo já se repetiu muitas vezes em outras vidas, certo?
Sim, de acordo com a mecânica da natureza, isso é muito provavél. Algumas vezes aconteceu o fato nessa mesma vida, ou ainda pode ter sido vivenciado no mundo dos sonhos.