Em matéria de psicologia devemos fazer uma diferenciação exata entre o Eu e o Ser.
O Eu não é o Ser nem o Ser é o Eu. Todo mundo diz: meu ser, pensa em seu ser, porém não sabe que coisa é o Ser e o confunde com o Eu.
Quando batemos em uma porta, alguém pergunta: “quem bate?” Nós respondemos sempre dizendo: “sou eu!” Nisto não cometemos erro e a resposta é exata. Porém, quando dizemos: “todo o meu ser está triste, enfermo, abatido, etc.”, então sim, erramos torpemente porque o pobre animal intelectual, falsamente chamado homem, ainda não possui o Ser.
Só o Ser pode fazer e o homem máquina, o pobre animal intelectual, não é capaz de fazer nada. Tudo lhe sucede, é um simples joguete mecânico movido por forças que desconhece.
O animal intelectual tem a ilusão de que faz; porém , em verdade, nada faz. Tudo sucede através dele.
Se nos agridem, reagimos agredindo. Apressam-nos pelo pagamento do aluguel da casa e reagimos buscando dinheiro com ansiedade. Alguém nos fere o amor próprio e reagimos cometendo loucuras, etc.
O pobre animal intelectual é sempre vítima das circunstâncias. Não é capaz de originar conscientemente as circunstâncias, porém crê equivocadamente que as origina.
Realmente só o Ser (o Íntimo), pode determinar conscientemente as circunstâncias; porém por desgraça, o animal intelectual falsamente chamado homem ainda não possui o Ser (o Íntimo).
Muitos estudantes de escolas pseudo esotéricas e pseudo ocultistas, cheios de refinadas ambições metafísicas, cometem o erro de dividir seu querido Eu em duas metades arbitrárias e absurdas.
Qualificam a primeira metade de Eu superior e olham depreciativamente à segunda metade, dizendo: “esse é o Eu inferior”.
O mais curioso de tudo isto, o mais cômico e trágico ao mesmo tempo, é ver esse desgraçado Eu inferior lutando desesperadamente para evoluir e aperfeiçoar-se para conseguir algum dia a ansiada união com o Eu superior.
É ridícula a pobre mente do animal intelectual fabricando o Eu superior, conferindo-lhe atributos divinos dando-lhe poderes extraordinários para controlar a mente e o coração.
O próprio Eu dividindo-se em dois, o próprio Eu querendo mesclar-se depois de haver se dividido em dois, o próprio Eu separando-se e querendo juntar-se novamente.
As ambições do Eu não têm limites. O Eu quer e deseja fazer-se mestre, deva, Deus, etc.
O Eu divide-se em dois para tornar a juntar-se e ser Um. Assim crê equivocadamente o Eu que pode ver coroadas de êxito suas ambições super divinas.
Todas estas tretas do Eu são finos enganos da mente, tontices sem valor algum.
A mente fabrica o cômico Eu superior a seu gosto, veste-o de Mahatma, lhe põe sonoro nome e logo se auto engrandece caindo na mitomania.
Conhecemos o caso de um mitômano que deixou crescer a barba e o cabelo, vestiu-se com uma túnica jesuscristiana e disse a todo mundo que ele era nada menos que a própria reencarnação de Jesus Cristo.
Naturalmente, foram muitos os imbecis que não somente o adoraram, como continuam o adorando.
A mente, ao ter o mau gosto de criar o Eu superior como um ente separado e super divino, costuma falsear a realidade supondo equivocadamente que dito ente é o Ser, o Íntimo, o Real.
A mente quer arbitrariamente que o Eu superior fabricado por ela seja o Ser, o Íntimo e lhe atribui estupidamente coisas fabricadas por ela, coisas que nada tem que ver com o Ser.
Estas tontices da mente são parecidíssimas com a falsificação do moedas. A mente forja um falso Ser, cuja nota falsa é o Eu superior.
Os mitômanos tem um amor próprio terrível e espantoso. Valorizam muito a si mesmos. Adoram sua nota falsa, seu tão cacarejado Eu superior.
Todo mitômano é um psicopata ridículo. Todo mitômano se superestima de maneira exagerada e se autoconsidera todo um Deus que as pessoas estão obrigadas a adorar.
Nem todos que fabricam para si mesmos um Eu superior caem na mitomania. São abundantes os fanáticos que não são mitômanos e só aspiram evoluir para chegar à união com o Eu superior.
Esses fanáticos não comem sequer um pedaço de carne, nem tomam um só copo de vinho e criticam espantosamente todo aquele que coma um pedacinho de carne e tenha um copo de vinho em sua mão pronto para fazer um brinde.
Esses fanáticos são insuportáveis. Comumente são vegetarianos cem por cento, acham-se santos; porém em casa são cruéis com a mulher, com os filhos, com a família, etc.
Essas pessoas gostam de fornicar, adulterar, cobiçar, ambicionar, porém se acham muito santas.
A mente só serve de estorvo ao Ser , ao Íntimo; nada sabe sobre o real. Se o pensamento conhecesse o real, o Íntimo, o Ser, todas as pessoas seriam compreensivas.
Só através da meditação profunda podemos experimentar o Ser, o Íntimo.
A experiência do Ser (o Íntimo), nos transforma radicalmente. Os mitômanos costumam falsificar esta experiência com auto projeções mentais inconscientes, que logo procuram relatar a todo mundo.
Os mitômanos costumam ser vítimas dos auto enganos e, crendo-se deuses, aspiram ser adorados por todo mundo.
É completamente impossível experimentar o Ser, o Íntimo, o Real, sem haver chegado a ser verdadeiros mestres técnicos e científicos dessa ciência misteriosa chamada meditação.
É completamente impossível experimentar o Ser, o Íntimo, o Real, sem haver chegado a uma verdadeira maestria nisso da quietude e silêncio da mente.
Contudo, não devemos auto enganar-nos e confundir gato com lebre. O Eu também ambiciona e cobiça esses silêncios e até os fabrica para si mesmo artificialmente.
Durante a meditação profunda necessitamos de quietude e silêncio total da mente, mas não necessitamos dessa quietude e desse silêncio falsos, fabricados pelo Eu. Não devemos esquecer que o Diabo rezando missa pode enganar às pessoas mais astutas.
É lógico dizer que se queremos silenciar a mente à força, na marra, se queremos aquietá-la torturando-a e amarrando-a, motivados pela cobiça de experimentar o Ser, o Íntimo, só conseguiremos silêncios artificiais e quietudes arbitrárias produzidas pelo Eu.
Quem quiser verdadeiramente um legítimo silêncio e não um falso silêncio, uma verdadeira quietude e não uma falsa quietude, o melhor que deve fazer é ser íntegro, não cometer o erro de dividir a si mesmo entre sujeito e objeto, pensador e pensamento, Eu e não Eu, controlador e controlado, Eu superior e Eu inferior, eu e meu pensamento, etc.
Saber meditar é estar de verdade no caminho da iluminação interior. Se quisermos aprender a meditar devemos compreender que não existe diferença alguma entre Eu e meu pensamento, isto é: entre pensador e pensamento.
A mente humana não é o cérebro. O cérebro está feito para elaborar o pensamento, porém não é o pensamento. A mente é energética e sutil, mas nós cometemos o erro de auto dividir-nos em milhares de pequenos fragmentos mentais que, em seu conjunto, compõem isso que é a legião do Eu pluralizado.
Quando tratamos de unir todos estes fragmentos mentais durante a meditação com o são propósito de sermos íntegros, então todos esses fragmentos formam outro grande fragmento com o qual temos que lutar, tornando-se então impossível a quietude e o silêncio da mente.
Não devemos nos dividir durante a meditação entre Eu superior e Eu inferior, eu e meus pensamentos, minha mente e eu, porque a mente e o Eu, meus pensamentos e Eu, são um só; o Ego, o Eu pluralizado, o si mesmo, etc.
Quando compreendemos de verdade que o tal Eu superior e o Eu inferior, assim como meus pensamentos e eu, etc., são todo o Ego, o mim mesmo, é claro que por compreensão total nos libertamos do pensamento dualista, a mente fica quieta de verdade e em profundo silêncio.
Só quando a mente está quieta realmente, só quando a mente está em verdadeiro silêncio, podemos experimentar isso que é a realidade, isso que é o Ser autêntico, o Íntimo.
Enquanto a mente estiver engarrafada no dualismo, é totalmente impossível sermos íntegros.
A essência da mente (o buddhata) é preciosíssima, porém desgraçadamente está engarrafada no batalhar das antíteses.
Quando a essência da mente durante a meditação se escapa da garrafa dos opostos, podemos experimentar o Real, o Ser, o Íntimo.
Há dualismo quando Eu trato de reunir todos os fragmentos de minha mente em um só.
Há dualismo quando minha mente é escrava do bem e do mal, do frio e do calor, do grande e do pequeno, do agradável e do desagradável, do sim e do não, etc.
Há dualismo quando nos dividimos entre Eu superior e Eu inferior e aspiramos que o Eu superior nos controle durante a meditação.
Quem alguma vez experimentou o Ser durante a meditação, fica curado para sempre do perigo de cair na mitomania.
O Ser, o Íntimo, o Real, é totalmente distinto disso que os pseudo esoteristas e pseudo ocultistas chamam de Eu superior ou Eu divino.
A experiência do Real é completamente diferente, distinta de tudo aquilo que a mente experimentou alguma vez.
A experiência do Real não pode ser comunicada a ninguém porque não se parece a nada do que a mente experimentou antes.
Quando uma pessoa experimentou o Real compreende então muito profundamente o estado desastroso em que se encontra e só aspira conhecer-se a si mesmo, sem desejar ser mais do que é.
Hoje em dia, o pobre animal intelectual falsamente chamado homem só tem um elemento útil. Este elemento é o Buddhata, a essência da mente com a qual podemos experimentar o Ser, o Íntimo, o Real.
Este precioso elemento está metido na garrafa do intelecto animal. Quando durante a meditação interior profunda a mente fica totalmente quieta e em absoluto silêncio, por dentro e por fora, não somente no nível superficial, mas também em todos os diferentes níveis, camadas, zonas e terrenos subconscientes, então a essência, o precioso elemento, se escapa da garrafa e se funde com o Ser, com o Íntimo, para experimentar o Real.
A Ciência da Música- Samael Aun Weor